Diásporas Femininas: Anna Fahr narra exílio

Durante os primeiros anos da Guerra na Síria, duas irmãs, Rima (Maria Hassan) e Nour (Hala Hosni), cruzam a fronteira com o Líbano para escapar às atrocidades dos campos de batalha, e chegam ao Bekaa Valley, zona rural que abriga diversos acampamentos de refugiados. A irmã mais velha, Rima, está no oitavo mês de gravidez. Seu marido, um professor, combinou de encontrar com ela mas não consegue chegar a tempo. As duas acabam, a contragosto, se fixando na barraca de uma das refugiadas que lhes oferece abrigo. O filme levou o Prêmio por Melhor direção de arte na Mostra de São Paulo 2023.

Na medida em que o tempo passa, fica cada vez mais claro que a situação não é transitória como a princípio julgavam. O exílio está colocado para ambas, que são muito unidas, mas possuem perspectivas direrentes, e que forçosamente terão de se separar. A narrativa não é a apenas sobre o processo migratório imposto pela guerra, mas sobre diferenças culturais e de geração diante do conflito. Rima vai dar à luz, e mesmo não se identificando em seu novo país, que não acolhe de bom grado as jovens sírias acampadas naquela região. A exceção são os refugiados do acampamento, a nova família das duas irmãs.

O filho de Rima nasce pelas mãos da parteira local Haifa e sua filha, Shirin, que acolheram as irmãs solidariamente, desde o primeiro momento, em sua tenda. Rima descobre que o marido Firas não mais virá, e que será mãe solo.

Ao longo do filme, é descoberto que o irmão mais novo de Nour e Rima se uniu aos rebeldes, e está sendo procurado pela polícia. Nour encontra apoio no jovem soldado sírio Hassan, que está enamorado de Shirin, para tentar encontrar o irmão. A jovem Nour sai em sua busca, porque não se vê como pertencente àquele espaço transcultural na fronteira, um não lugar que confere invisibilidade a habitantes, apátridas. Os libaneses que providenciam acolhida ao povo sírio são malvistos pela polícia e pela população da área.

Este é o primeiro longa-metragem de Anna Fahr, diretora canadense iraniana que em seus trabalhos de curta-metragem, como Migrant Mothers of Syria, aborda sempre as diásporas e as personagens femininas. Sua produtora se chama Morning Bird Pictires, e está sediada em Toronto. O filme foi rodado na fronteira entre Síria e Líbano, mesmo cenário do filme, local sem muitos recursos. Fahr é também pesquisadora e professora na Universidade Saint Lawrence, em Canton, New York, e acredita que esse equiíbrio entre o fazer cinema e ser educadora e pesquisadora é essencial para o resultado do seu trabalho, pos “os alunos acabam se envolvendo no processo”. O elenco do filme é predominantemente composto por mulheres.

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