O que a princípio se assemelha a uma rixa entre comunidade local e novos moradores vai se transformando aos poucos num thriller assustador e frenético. O paraíso bucólico sonhado por Antoine está cada vez mais próximo de um autêntico pesadelo. Sorogoyen, que assina o roteiro com Isabel Peña, reafirma o seu talento em criar tensão e horror a partir de prosaicos frames cotidianos, captando pequenos gestos de seus personagens. As Bestas é uma coprodução entre França e Espanha, e sua história de suspense é baseada em fatos. Ao Ao longo da pesquisa para escrever a trama, Sorogoyen e Peña descobriam que anualmente, em diversas aldeias próximas à locação, várias aldeias reaslizam “a rapa das bestas”, uma celebração popular que consiste em cortar as crinas dos animais selvagens para remover quaisquer parasitas antes de liberar os animais de volta para as montanhas. As bestas do título, todavia, deste premiado filme de Sorogoyen, diretor do também insólito “Madre”, não são os animais, como sugere a cena inicial, mas os seres humanos, que aos poucos vão se transformando em autênticos monstros para poder saciar seus desejos mais obscuros.
A narrativa é marcada por excelentes interpretações, é um filme centrado nos atores, entre diálogos e silêncios. O longa foi selecionado e exibido na mostra Première no Festival de Cannes de 2022 e, em 2023, venceu nove Prêmios Goya, a premiação mais importante da Espanha, além de conquistar o César de Melhor Filme Estrangeiro, e estreia hoje em São Paulo.