Screamboat, o rato delirante em comédia slasher

A barca que faz a travessia New York para Staten Island nunca esteve tão animada. Uma garçonete, Selena, está sendo perseguida por uma cliente, Cindi (Kailey Himan) e suas amigas, que comemoram o seu aniversário e não querem que a festa termine,  a médica socorrista EMT Amber (Amy Schumacher) se vê às voltas com um passageiro habitual que acredita que ninguém vai sair vivo dali. Aparentemente, há mesmo alguém estranho espreitando os passageiros, mas tudo parece sob controle.

Selena faz amizade com um rapaz da tripulação, Pete (Jesse Posey), que se  propõe a ajudar a moça a escapar das clientes alcoolizadas. Mas as pessoas começam a morrer misteriosamente. O estranho serial killer é um rato, Willie,  cujo vestuário se assemelha ao de Mickey Mouse na clássica animação Steamboat Willie, de 1928, mas que parece ter escapado de algum laboratório sinistro. E as coisas vão escapando de controle, naturalmente. Willie foi, de fato, vamos acabar descobrindo, um experimento que não deu certo. Ele volta para ter direito à vingança e quer encontrar sua companheira. Algumas pessoas da tripulação vão acabar se aliando a ele, na esperança de escapar.

O que faz essa comédia de terror slasher, em que cabeças são cortadas e o sangue jorra com tanta naturalidade, no tire da situação de conforto é justamente esse boneco desengonçado que consegue enganar a todos com truques banais, como os de uma figura de desenho animado. O que faz com que as pessoas caiam nos golpes que ele dá é certamente o fato de que ele não tem nenhuma emoção e a menor empatia com seres humanos, e as pessoas custam a acreditar que aquela pantomina de Mickey seja capaz de algo tão medonho, o que deverá agradar aos fãs do gênero. Dirigido por Steven LaMorte, Screamboat, terror à bordo, com suas diversas reviravoltas, cenas inusitadas e mortes macabras, é que o pequeno psicopata do título parece ser o herói do filme. As clientes de Selena são insuportáveis, o capitão e parte da tripulação são burocratas e carreiristas, e assim, o pobre Willie, fruto podre de uma experiência que não deu certo, pode destruir tudo sem piedade.

Ao final, percebe-se o projeto de uma sequência para o filme. Willie sobrevive a tudo, e na última cena, parece prestes a reencontrar o amor de sua vida. Amber e Selena se salvam, com um pequeno garotinho, e nas cenas pós-créditos, Pete, que todo mundo acreditava ter morrido também. pede socorro, pois ficou preso na barca.

Ao longo da macabra travessia, que termina de forma trágica, com a balsa à deriva, há diversas cenas com alusões sarcásticas à vida em New York, e aos caipiras que, como Selena, vêm em busca de um lugar ao sol na Big Apple, como é chamada a cidade. Amber, que ao final fica amiga de Selena, revela que ela também é caipira. A naturalização do massacre estaria associada ao insólito que é viver na grande cidade. Staten Island é um bairro mais simples e sossegado da cidade. O experimento diabóilico do qual Willie e provavelmente outras criaturas fizeram parte é mencionado sem muita profundidade, apenas como piada. David Howard Thornton, o Willie, já trabalhou com os produtores interpretando o palhaço Art, de Terrifier, que está anunciando uma terceira sequela. Ele é alto, ao contrário do minúsculo rato de Terror à Bordo, que parece uma criança pervertida.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *