No último dia 12, dia dos namorados, estreou nos cinemas nacionais o novo longa de Rodrigo Aragão, Prédio Vazio, estrelado por Lorena Corrêa, Caio Macedo, Gilda Nomacce e Rejana Arruda. Aragão é cineasta capixaba dedicado a um gênero, os filmes de horror, que sempre foram considerados como filmes B pela maior parte da crítica do país. Aragão é tido como um herdeiro de José Mojica Marins, o Zé do Caixão, cineasta que ele admira, e do qual diz ter extraído uma das melhores lições de sua vida – a de aceitar os limites intrínscecos a uma produção, e o fato de que nem sempre é possível atingir a perfeição, a projeção do imaginário, e que aceitar isso faz parte do processo de construção de um filme. A Fábulas, produtora de Aragão juntamente com sua parceira, Mayra Alarcón, trabalha com um conceito de filme-escola, e todos os integrantes da equipe passaram por oficinas que eles produziram.
O filme de Aragão é um marco no cinema brasileiro de horror por diversas questões. Uma delas é a de que ele foi a primeira produção feita em estúdio próprio, e é uma produção regional, ou seja, fora do eixo Rio-SP. A outra questão é a presença de personagens femininas fortes, que absolutamente dominam a cena. As obras anteriores do cineasta se passavam no interior, ou em regiões isoladas. Ao transpor a ação do longa para Guarapari, um balneário turístico, Aragão sai do registro do horror que se alinha ao exótico e ao folclórico para adentrar os umbrais daqueles espaços que parecem ser um objeto de consumo desejado pela maioria da classe média, representados por esses destinos de praia com seus calçadões e quiosques sofisticados. Vamos esquecer das preocupações, e aproveitar o verão do pós-carnaval, diz Fábio (Caio Macedo) para sua namorada Luna (Lorena Correa), que decide ir até Guarapari para encontrar com sua mãe, Marina (Rejane Arruda), que foi passar as folias de Momo com um namorado tóxico e abusivo.
O edifício Magdalena, onde se passa a maior parte da trama, é na verdade uma imagem e uma fachada, mas o verdadeiro set se passa dentro do estúdio e de uma casa alugada para dar maior verossimilhança para a ação. Luna está preocupada com sua mãe, que foi até Guarapari passar o carnaval com um namorado violento, e decide partir para o balneário para certificar-se que nada de pior aconteceu. Ela vem tendo pesadelos constantes com sua mãe. Seu namorado Caio, a princípio cético, decide acompanhar a namorada com a certeza de que tudo não passa de um excesso de preocupação por parte de Luna . Ao chegarem a Guarapari, se deparam com um edifício aparentemente vazio, que corresponde ao endereço da mãe de Luna. Ninguém atende à campainha, e eles decidem invadir o prédio. O que eles não esperavam era ter de enfrentar a zeladora do prédio, Dora (Gilda Nomacce), que possui um mistério em seu passado e a partir daí decide se tornar a protetora das almas que habitam o prédio.
O filme mescla elementos de horror e de mistério que pertencem aos cânones do horror, mas possuem um elemento especial – a inserção num cenário nacional e globalizado que deveria inspirar finais de semana prosaicos com a família em total segurança. Nada disso acontece no filme, que possui interpretações inspiradas e mais uma atuação excepcional de Gilda Nomacce, nossa grande dama do horror e do insólito. Sua interpretação é magistral, na dose certa entre psicopagia e solidariedade feminina. Ela elimina a marteladas o desagradável namorado de Rejane Arruda sem pestanejar, e faz parecer natural o seu ato. Lorena Correa surpreende com sua interpretação madura de Luna, que para muitos corresponde ao estereótipo da final girl no terror, e seu namorado Fábio confere doçura e sensibilidade ao parceiro romântico que arrisca tudo por amor. A primeira imagem do filme é a de um casal de idosos apaixonado. Prédio Vazio trata da solidão urbana, mas também fala de amor eterno, da importância dos vínculos afetivos e familiares.