Os amantes do universo fantástico em São Paulo já podem contar com um novo espaço: no último dia 13 ocorreu a primeira edição do Festival Literário de Fantasia (FLIF), nas dependências do teatro Marte Hall.
O evento contou com a presença de autores, editores, tradutores e criadores de conteúdo que abordaram o gênero em painéis temáticos ao longo do dia. O grande homenageado da noite foi Brandon Sanderson, conhecido pela saga Mistborn e pelo livro O Caminho dos Reis, publicados atualmente pela editora Trama. A ideia do evento, dedicado ao gênero fantasia, nasceu por meio da iniciativa de Cassia Carrenho e Mariana Rolier, que vindas do mercado editorial, tinham o objetivo de fortalecer as discussões e promover o debate acerca do gênero tanto no meio literário, quanto entre autores, criadores de conteúdo e o público.

Na minha opinião, os tradutores reinaram na FLIF. Os painéis tiveram a presença dos tradutores das obras de Sanderson, Tolkien e de George R. R. Martin. E como se sabe, o trabalho de tradução envolve uma série de cuidados, especialmente quando os autores criam seus próprios universos, com regras e desenvolvimentos específicos. Portanto, quando se trata de autores tão prolíficos como os citados, foi interessante ver como eles relataram suas experiências com os textos.
Brunna Prado, tradutora do Tolkien para a editora Harper Collins, explica que atualmente existem vários textos póstumos do autor que a auxiliam, sendo que até mesmo foi criado um conselho de tradução. Os tradutores de Brandon Sanderson podem recorrer a um glossário de verbetes em construção, que já contabiliza mais de 1700 palavras para amparar a tradução das histórias.

O painel “Como salvar o mundo e outros mundos: a Jornada dos heróis na Fantasia” trouxe uma crítica contundente à obra canônica O Herói de Mil Faces, de Joseph Campbell, publicada em 1949. Entre os comentários presentes no painel acerca do conceito, se destacou o modelo limitado ao qual as histórias são comumente enquadradas e ao universalismo das tramas, que não levam em consideração mitologias de povos originários, africanos e asiáticos. Além da clara falta de representatividade que, consequentemente, segue fortalecendo estereótipos.
Os convidados desse painel deram contribuições importantes sobre as qualidades e os defeitos de seus personagens, da identificação com eles ao escreverem, e ainda da importância da representatividade quando se constrói uma narrativa. Fábio Kabral explicou que se baseia na sua própria história como autista para construir seus heróis. Também, uma das características presente em seu texto é a presença de personagens marginalizados que lutam contra um status quo definido. Para Mayra Sigwalt, a construção da trama surge quando ela incita seus personagens a discutirem seus próprios problemas, já que sempre começa a escrever a partir do enredo central. Já Laura Pohl aponta que cria um personagem como resposta a alguma coisa que não gostou de uma narrativa que leu anteriormente. E, portanto, seus heróis são formados de uma tapeçaria de referências.

O evento contou com uma feira de editoras independentes, livrarias e vendedores de artigos do universo fantástico. E foi nesse espaço que ocorreu o lançamento da segunda edição da Phantastika, revista de ficção científica, fantasia e horror. A entrevista do mês é com a atriz Gilda Nomacce, em destaque na capa . O estande da editora Polythema também incluiu a venda da coletânea O Brasil Phantastiko no Cinema, do selo Phantastika e organizado pelas autoras Luiza Lusvarghi e Ana Catarine Mendes da Silva. O livro contém nove ensaios sobre a filmografia atual brasileira de horror, ficção científica e fantasia.